Quem somos?

Jamais se afaste do que te faz bem

06 dezembro 2012


Eu estava em frente ao espelho, me arrumando para o grande dia dele. Ainda era cedo, mas eu não estava certa da escolha da minha maquiagem, então decidi ficar testando várias combinações, eu acho que eu só queria distrair-me um pouco daquele dia. 
A festa começará às 18 horas, será uma cerimônia tradicional, do jeito que a noiva quer. Pelo menos foi isso que ele comentou comigo da ultima vez que conversamos.
Eu nunca parei pra pensar no quanto ele me faria falta, meu melhor amigo, melhor companhia, meu amante... Quem diria que se casaria tão cedo? Será que é cedo ou eu que sou egoísta mesmo?
E agora? Quem eu iria chamar pra ir comigo assistir aquele filme meloso e fingir que éramos um casal apaixonado? Quem iria intimidar meus futuros pretendentes escrotos na balada? Pra quem eu ia ligar no meio da madrugada pra me ajudar com a minha insônia? 
Eu queria voltar no tempo, pra sermos jovens pra sempre. Eu não o queria pra mim, o queria comigo. E o casamento significava o fim de tudo. Até que enfim ele estava tomando jeito, pensando no futuro, criando responsabilidades. Afinal ninguém é jovem pra sempre. Enquanto nós dois juntos só pensávamos na próxima balada, nos próximos planos tolos, na próxima vitima. Como nós éramos bobos.
Ele sempre foi “o cara”. Tinha um jeito marrento que eu amava, cabelos loiros que seduziam a maioria das minhas amigas, um sorriso de canto de boca encantador. Era meio babaca às vezes. Mas eu perdoava. Afinal, nunca fomos muito diferentes. Egocêntricos, mimados, orgulhosos e babacas. Todos diziam que fomos feitos um para o outro.  
Eram 16 horas ainda e eu já estava quase pronta, testei o batom vermelho, afinal, eu tinha que parecer tão feliz quanto ele, o batom vermelho sempre me deixava poderosa. Não que eu estivesse triste com seu casamento, não. Era só meu egoísmo mesmo.
“Tlindom”  Era o som da campainha, eu não estava esperando ninguém. Prendi meu cabelo rapidamente e fui abrir a porta com vestido de festa mesmo, estava curiosa pra ver quem era. 
- O que você está fazendo aqui seu louco? Essas horas você deveria estar se arrumando pra festa. – Fiquei tão surpresa quando o vi na porta.
- Eu vim porque você é a única que me entende. – Disse e foi entrando no meu apartamento e sentando-se no sofá.
- A sua noiva que não vai entender se você se atrasar mais que ela, só lembrando que é a noiva que tem que se atrasar no casamento. Vai logo se arrumar – Puxei-o do sofá e tentei o arrastar pra fora.
- Eu não quero mais casar. – Olhou nos meus olhos e disse com firmeza.
- E você só decidiu isso agora? – repreendi-o, ele era meu amigo e eu tinha que o ajudar a fazer a coisa certa. – Nada disso, você só está meio confuso, isso é normal. – continuei puxando ele pra fora.
- Na verdade não é o casamento que me assusta, eu estou com medo de... – Eu o encarava confusa. 
- Medo de que homem? – ri do seu ataque de pânico pré-casamento.
- De ficar longe de você – fiquei atônita, não sabia o que dizer e fazer. Apenas senti seus braços me envolvendo, seus lábios encostando suavemente nos meus e o seu sussurro – Se você me pedir eu desisto de tudo. – me pegou pelos braços e me beijou, um beijo quente e demorado. Eu me afastei.
- Eu não posso te pedir pra ficar, não posso ser egoísta com você, logo com você que é meu melhor amigo. Eu amei compartilhar a minha juventude com você, fazer as loucuras que fizemos juntos, mas... – não conseguia o encarar. – Eu quero que você seja feliz e eu sou apenas uma diversão da sua juventude. Só posso te pedir uma coisa por mim. Por favor, se case e seja feliz.
Então ele me abraçou e foi embora. E eu me arrependi de cada palavra que disse, mas achei que fosse meu lado egoísta gritando. Afinal nós não nos amávamos. Afinal nós não nos amávamos? Algumas lágrimas escorreram pelo meu rosto e eu me senti confusa, eu nunca soube me reconhecer, nunca soube interpretar meus próprios sentimentos, era ele que sempre fazia isso por mim.
Enfim a cerimônia começará. Ele estava lindo de terno e gravata, estava com seu jeito de marrento de sempre, aguardando a noiva.
Eu pensei em fazer como nos filmes e na hora que o padre dissesse “Se alguém tem algo contra esse casamento, fale agora ou cale-se para sempre” eu gritaria – Eu tenho, o noivo me ama. – E nós fugiríamos pra Miami e seriamos felizes para sempre. Mas eu não tinha certeza do “para sempre”, não tinha certeza se o noivo me amava, não tinha certeza se eu o amava, não tinha certeza sobre Miami. Então o deixei casar-se.
Já na festa recebi um bilhete do garçom, onde dizia em um cantinho rabiscado no verso “Estou casando, mas o grande amor da minha vida é você”. Ele nunca foi muito criativo, roubou o trecho de uma música, mas agora eu tinha certeza e sabia que o meu medo de ser egoísta, minha confusão de sentimentos, gerada pelo fato de que eu vivia me blindando de tudo, pra ter a sensação de que eu era inatingível, impediu-me de viver algo único, aprendi que não devemos ser covardes.
Declare-se, ame, não solte da mão de quem você ama, pois um dia ele pode ir embora pra sempre. Jamais se afaste do que te faz bem.

Por: Fernanda Regina
Com o toque especial de Melissa


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